domingo, dezembro 09, 2007

História de uma vida I

Hoje sento-me para escrever sobre ti... alguém que não vejo faz tanto tempo...
A mesma idade... inicio de percurso de vida idêntico... o mesmo pensamento... os mesmos sonhos... a mesma vida!! Mas a falha acontece exactamente na altura em que os nossos caminhos se separaram por injustiças... mesmo com destinos diferentes continuavamos juntas... sempre juntas... acho que o sangue sempre falou mais alto... brigas, discussões eram uma constante quando mais novas... mas a amizade e a cumplicidade sempre venceram entre nós...
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Cresceste um pouco mais rápido, começaste a trabalhar e não saíamos muito... embora juntas as nossas educações sempre foram diferentes... cresceste como se vivesses na altura da minha mãe... eras conservadora e continuas a sê-lo e por isso hoje sofres o dobro do que alguém da nossa idade sofreria com a tua vida... Ganhavas o teu dinheiro e guardava-lo religiosamente para quando podesses mudar de vida e começar a ser FELIZ!! Para quando amasses e começasses a ser amada... para quando te entregasses de alma e coração... Será que alguma vez te sentiste realmente feliz? acredito que por meros instantes a resposta seja afirmativa!!
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Lembro-me como se fosse hoje, cheguei da escola e tinha saudades tuas... fui a casa da avó... estavas no banho... entrei sentei-me na sanita, como fazia sempre que estava contigo e estavas no banho, estavas a relaxar naquela banheira cheia de àgua a ferver que fazia a avó mandar vir contigo... Sempre gostaste de àgua a ferver no banho, como a tua mana mais velha, saíam sempre "cozidas" como vos dizia em tom de brincadeira... Naquele dia estavas diferente, tinhas um sorriso pátéctico na cara... era segunda e soube que tinhas saído com a tia no fim de semana... Disseste-me quase a sussurrar: - Ando com uma pessoa... não contes a ninguém!!! pedido ao qual não esperavas resposta, já nos conheciamos o suficiente...
respondi-te com um bombardeamento de questões: - Quem?? O filho daquele com quem a tia anda a sair? Bem me disseste que andava aí qualquer coisa... como é? e idade? o que aconteceu? Pormenores sff!!
Passaste a esponja de forma suave na perna, levantada fora de àgua e sorriste timidamente... eras tão timida no que respeitava a assuntos do coração... ainda assim, hoje estás mais fechada...
Estavas apaixonada confessaste-o, ele era meigo, atencioso, preocupado... e parecia amar-te... fazias o que querias dele e ele era o teu menino...
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Passaram alguns dias e trouxeste-o para nos conhecer, era simpático, gostamos dele, jantou connosco nesse dia e era tão doce contigo... estava feliz por ti... sentias-te nas nuvens... algum tempo depois as coisas começaram a mudar e tu não eras mais a mesma... entre os fins de semana que passavas em casa dele e os dias a trabalhar o "nosso" tempo diminuiu... Ao falar contigo sentia-te mais apagada.. a tua luz não brilhava tanto... e ele estava diferente... não suportava sair com vocês, não suportava estar perto mais de 10 minutos... ele tratava-te como se não fosses ninguém... quem out'rora te venerava e fazia tudo o que lhe pedias hoje não te deixava sequer abrir a boca sem que te rebaixa-se, sem que te chama-se burra e te fizesse senti-lo de veras... choravas e dizias que o amavas e no fim de semana seguinte chegava a tua casa com um ramo de flores e um pedido de desculpa "deslavado"... Haviam fins de semana que não aparecia, saía com os amigos e com as amigas... e tu não querias fazê-lo porque ele se zangava... quantas vezes te tentei arrancar de casa? tu sabes!!!
Ouvi-o dizer-te, com os meus ouvidos, que se te deixa-se mais ninguém te quereria... ouvi-te calar a esta provocação e percebi que a vossa relação não podia ir bem... abri-te os olhos, pedi-te que lhe fizesses frente mas para meu desgosto acreditaste em cada uma daquelas palavras e redimiste-te...
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Alguns dias depois disseste-me: - Vou casar!! Boquiaberta não conseguia acreditar no que estava a ouvir: - Tens a certeza? Achas que vai correr bem? Com o maior dos sorrisos nos teus lábios continuaste, enquanto comias uma sandes de fiambre e secavas o cabelo no teu quarto ao som da radio cidade: - Hum hum, ele ama-me e eu amo-o... depois vamos sair de Portugal e construir a nossa vida! Estava imóvel a observar-te os movimentos: - Temos 19 anos... a vida ainda pode mudar tanto! Olhaste-me abismada, como se dissesse uma parvoice: - Tás doida? ele foi o meu primeiro namorado, o meu primeiro homem, amo-o como nunca mais vou amar ninguém... Fixei a laranjeira que se vê da janela do teu antigo quarto e balbuciei: - Tu é que sabes... só quero que sejas muito feliz! Continuaste a vestir o pijama: - E vou ser, este será o inicio da minha verdadeira vida... Dei um sorriso cínico para a janela e disse para mim mesma: - Espero que sim! Voltei-me... abraceite com as lágrimas nos olhos e pedi-te que fosses feliz!!!
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Chegou o dia... estavas LINDA... aquele vestido branco, o teu sorriso... o teu cheiro... estavas feliz e eu só tinha vontade de te sorrir... merecias aquele momento como ninguém... merecias ser feliz... acompanhamos-te o dia todo... disseste um sim sentido, beijaram-se de forma apaixonada e depois de um almoço demorado partiram para casa dele...
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Sentia-me esquesita... faltava uma semana para nos separarmos como nunca havia acontecido... Um distância exageradamente grande iria existir entre nós, entre as confissões, entre as discordias, entre os puxões de orelhas uma à outra, entre as nossas vidas e entre nós duas... senti a lágrima percorrer-me o rosto, mas desejei-te a maior das felicidades... Foste embora alguns dias depois e ficou o vazio.. e a estranheza de não te termos aqui... os telefonemas, as sms e as conversas de videoconferencia no pc começaram a ser uma constante... constante que com o tempo se tornou mais rara... tu também nunca foste de muitas demonstrações de carinho, de saudade... nunca foste muito sentimentalista...
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Mas quando chegava o verão cá estavas tu... iamos à praia, saiamos juntas e dividiamos experiencias... o primeiro ano senti-te diferente.. ele continuava a tratar-te como se fosses inferior e isso irritava-me por demais... um dia fiz-lhe frente quando tentou fazer-me o mesmo: - Tás ta passar? se ela te deixa tratá-la assim azar... embora ela não mereça e não seja nada do que dizes... tens muita sorte de ela ter olhado para ti, podes ter a certeza... agora a mim? eu não te sou nada... por isso calma contigo... Pediu-me desculpa e disse que não estava a dizer o que quer que fosse com um verdadeiro fundamento... passou...
No segundo ano senti-vos mais unidos... fiquei tão feliz... saímos a quatro :D e vocês estavam bem mais unidos, mais doces... mais felizes... pensei que haviam crescido juntos... lá longe, onde se tinham apenas um ao outro... senti uma sensação de felicidade que não sei explicar... Ele falava em bebés... estavam doidos...
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Uns tempos depois de irem para longe novamente vem a noticia... estavas grávida... ficamos radiantes... era uma menina e hoje tem quase um ano... ainda não a vimos... a vida não mais vos deixou vir cá... perto dos teus... a vida, ou o que ele fez dela... o que ele fez da vossa vida... da tua vida!
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Hoje vives calada, escondida numa concha... nem sabemos o que se passa dentro dessas quatro paredes... ele não te deixa falar... e tu poucas vezes o fazes... agora sentimos-te a aflição e queremos ajudar, mas é tão dificil... estás longe e fechaste.. nem sabemos bem com medo de quê... ele tem reacções agressivas, tem más companhias, não te ajuda... nem mais falou connosco... nem nos liga... e tu permaneces sozinha... num país que não é o teu... com uma língua que não consegues dominar, com a tua mais que tudo, a nossa pequenina e alguém que jamais mudará de atitude... ainda que o tempo o ajude a crescer enquanto não acontece vais sofrer sozinha... sem que te possamos jogar a mão... sem que te possa abraçar e te peça para fazeres uma loucura, estarei sempre ao teu lado! Quero convencer-te a mudar de vida, mas não acatas essa ideia... quero poder ter-te aqui, mas não pões essa hipótese em questão... quero-nos de volta, mas sinto que tardará imenso a acontecer...
Quero-te feliz, mas sinto que não me deixarás ajudar-te a sê-lo...
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Sinto-me incapaz e é terrivel... sabem o que é sentir que não conseguimos ajudar alguém que amamos e que sentimos, precisa de nós?

1 comentário:

Anónimo disse...

Nao podia deixar de escrever algumas palavras sobre o texto... mas a verdade é que as lagrimas que caem dos meus olhos escondem-me as palavras... que mais posso eu dizer.. o sangue correnos nas veias.. a nossa menina tão longe de nós oprimida e posta do lado de la duma barreira para ela tao pequenina inalcansável, porém ainda sem se aperceber de nada.. mas para a mae dela a mesma barreira e infelismente uma realidade bem diferente que não tardará a chegar á didi.. :( sinto-me triste...