domingo, janeiro 17, 2010

Zuppa (Romana)

Sempre tive 'companhias' na minha vida (sinceramente não gosto muito do termo: animais; quando por vezes o são tão pouco perto daqueles a quem temos que chamar pessoas...).
A mãe sempre nos deixou ter gatos, cães, pássaros e até uma ratinha daquelas pequeninas quem nem tem aqueles rabos gigantes que me arrepiam...
Lembro-me em flash dos momentos menos bons... a minha primeira cadelinha... tinha 5 anos e lembro-me do pai dizer que não podíamos ficar com ela quando voltamos do Algarve =( lembro-me de afirmar com toda a certeza que no dia em que a vi ir embora com outro 'dono' me fez adeus com aquela patinha que conhecia tão bem e me tocava com frenesim para lhe dar mais festas... com a face inundada de lágrimas foi a primeira vez que senti a dor de perder um amor sincero e verdadeiro... a fofinha não tinha uma raça especial, era preta, castanha e branca... acho que nem me lembro de ter uma foto dela... esteve connosco o quê? 4 ou 5 anos? não sei ao certo...
Depois disto a mãe disse que nunca mais teríamos animais, não conseguia ver-me sofrer assim... mas como não resiste, pouco tempo depois surgiu a pantufa I (porque houve várias hierarquias de pantufas na nossa vida), uma gatinha parda que tinha medo dos carros e viveu imenso tempo... tão meiga, tão doce e ia connosco ao café do vizinho e tudo :p como não gostava de carros ia pelos quintais =) adorávamos aquela gata... acabou por perder a vida numa estrada secundária, depois da pantufa veio o mareco (filho dela)... era igualzinho mas tinha duas riscas amarelas na face... perdeu a vida cedo na estrada e vimo-lo ser destruído em pedaços à nossa frente =(... era um doce, um pachorrento, depois seguiram-se alguns pantufas, uns meigos, um tontos, uns doidos e uns carentes... apareceu o bobi, a fofinha e uns passarinhos que soltávamos quando eram grandes...
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Um dia surgiu o Toffy, na altura dava uma novela que até hoje me lembro por causa dele 'Sonho meu'. O 'Sonho meu' era protagonizado por uma menina órfã e um velhote solitário que vivia com o seu cão 'Toffy' numa casa abandonada, a menina e o velhote tornaram-se grandes amigos... é do que me lembro ligeiramente... e surge o nosso Toffy =) 'Sonho meu, sonho meu tudo pode acontecer...' LOL ainda me recordo de partes da música... O Toffy faz em Julho deste ano 13 anos, sempre enérgico, a fazer asneiras, a correr desalmado quando íamos ao campo, a dormir comigo na cama, a vibrar quando o pai chegava, a expulsar a mãe da sala ou a rosnar quando nos roubava algo... o Toffy à cerca de 3 semanas teve uma dor muito grande na patinha... descobrimos que herdou da mãe o reumático... hoje ainda passa com medicação mas se for como a cukies um dia não vai passar, não vai conseguir aguentar a dor e temos que o ajudar a descansar =( isto dói... lá em casa da mãe ainda temos o Lukie, sortudo porque não passou nem meia hora na loja de animais, implorou a mim e à mana que o levássemos e não resistimos... inventamos uma desculpa e lá foi ele connosco para VNovas :D
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Desde que mudei de casa, há mais ou menos 1 ano, que senti necessidade de ter uma companhia... o B. adora estes seres magníficos mas sempre foi educado que 'animal é para estar na rua' blablabla... uns quantos meses a fazer-lhe a cabeça e começamos a procurar 'o nosso novo menino' :p associações de animais abandonados, lojas de animais... mas nunca mais aparecia aquele =( já começava a ficar triste... tem que haver química, temos que gostar e ser gostados... não é pegar em qualquer um e já está... temos que conquistar e ser conquistados...
O B. continuava a afirmar que preferia um cão, talvez um picher anão... e eu achava que o gatinho é mais independente e mais facilmente se adapta a um apartamento... 'não quero que a vida dele seja uma tortura' dizia-lhe... ele dava-me razão mas afirmava que gostava mais de cães... também eu, mas analisando tudo o que tínhamos para oferecer o gato seria a escolha certa... depois de vário meses infundados na procura do nosso novo amigos, do novo membro da família... começava a perder a energia...
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Um dia, fez esta semana 3 meses =p, ia eu para o trabalho contentíssima por conseguir chegar 30 minutos mais cedo e poder organizar todo o meu dia [estes dias correm sempre melhor ;)], quando ao chegar vejo uma bola de pêlo minúscula a correr desorientada de um lado para o outro no passeio ao pé da estrada principal...
lembro-me de pensar com alguma rapidez 'tenho que estacionar o carro e correr até lá se não vai ser atropelado', quando estaciono vou ao local onde 'o vi' mas tinha desaparecido =( a mim juntou-se uma senhora que trabalhava numa clínica ali ao pé e também tinha visto aquela bola de pêlo assustada... conseguíamos ouvir o seu miar desesperado mas não sabíamos onde se havia enfiado... ao fim de alguns minutos encontrá-mo-la enfiada num portão em zig-zag que a podia esmagar em segundos de tão pequenina que era... após várias investidas falhadas porque estava assustada e nos soprava cada vez que a tentávamos alcançar a senhora da clínica teve que ir embora mas o meu coração não me deixava ir embora, já estava atrasada... =( mas deixá-la ali, na minha cabeça, era sinónimo de perder a vida... e não conseguia... o que ia fazer? ela não me deixava pegar e eu não a conhecia... podia fazer-me mal. cerca de 45 minutos depois vejo chegar-se ao portão um senhor (deve ter pensado que era louca) que devia andar a pintar a fachada do prédio... automaticamente reparei que trazia daquelas luvas grossas que eles usam e pedi desesperada que me apanhasse o gatinho que estava no portão... os sopros, eram apenas fogo de vista... não mordeu, não arranhou, nem sequer mostrou resistência... estava com medo e a tremer... peguei-lhe e fui à clínica ver o que poderíamos fazer... não podia ficar com o 'animal' na clínica mas arranjaram-me uma caixinha para a colocar, estava com os olhos infectados, assustada e com um miar de desespero... e eu no inicio do dia... liguei ao B. pedi que ligasse ao pai para ir buscar a caixa... não ia ficar no carro um dia inteiro... levaram-na para casa, mas em todo o dia não comeu, nem usou a caixa de areia... lembro-me de ter dito ao B. 'se for um menino ficamos com ele, se for uma menina levamos para a loja de animais', o Bêh diz que sabe que a partir do momento em que tive aquele 'nosso amor' nos braços sabia que não o ia deixar em lado nenhum, mas eu juro que a minha ideia era aquela... uma bola de pêlo completamente preta, sem uma risca, sem uma mancha... como nunca havíamos pensado...
Quando o dia terminou, e como aquele dia de trabalho custou a passar... fui ver como estava... com receio que tivesse alguma doença não pensei duas vezes, peguei na minha bolinha e fui ao veterinário... a noticia chegou 'ohh, que meninA tão pequenina'. Ops, menina? :s e agora? já me tinha afeiçoado à minha bolinha... após saber que tinha apenas 4 semanas e que só devem ser tirados dos pais com 6, depois de a conseguirmos pôr a beber o leitinho de substituição e de deixar lá cerca de 50€, voltei para casa a pensar que tinha que dizer ao B. que tínhamos de ficar com ela... não conseguia deixá-la na loja de animais... a cunhadinha ajudou e depois de comprados os medicamentos começámos a tratar dela... era tão pequenina e tinha tantos medos... o B. apaixonou-se também... parece aquele Homem grande mas derrete-se com estas coisinhas e outras mais :p... trouxe-mo-la para casa... foi 1 semana complicada, tudo a assustava, escondia-se nos buracos todos e até se cortou no buraco da sanita... cerca de 2 semanas depois já estava pronta para as curvas... hoje a nossa menina não vive sem nós e mesmo com todas as traquinices possíveis e 'IN'imagináveis LOL (papel higiénico por todo o lado, estendal no chão, bolas da árvore de natal a rodar, telemóveis no chão, passeios por cima do computador, subidas pelas nossas pernas a cima, candeeiros no chão... não conseguimos ficar-lhe indiferente e adorá-la como adoramos...
Quem mais poderia dormir dentro do nosso casaco, correr atrás de nós pela casa, acompanhar-nos para cada canto, lamber-nos a testa e o nariz, ficar no ombro do Bêh como um papagaio a vê-lo jogar no pc, atirar-se para o chão de costas a implorar festas, miar-nos para nos tirar do pc ou 'ligar o motor' assim que a pegamos ao colo? Só a nossa Zuppa!
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Zuppa... sim sopa em Italiano... graças ao dono que tanto adora... de quem não pode sentir o cheiro que o 'miar mimado' vem sem pedir, a quem procura pela casa inteira ou a quem começou a roer os cabelos e as sobrancelhas =p... Graças a esta grande música (Zuppa Romana) de karaoke que o fez cantar sozinho no meio de 30 pessoas (logo o Bêh)... hoje aqui temos a nossa Zuppa, que é bem mais que uma companhia... é o novo membro da família que até foi connosco na Passagem de Ano :p
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E com isto aprendi que nós não escolhemos nada... não fui eu que a escolhi... foi ela que com aqueles olhinhos assustados mas a implorar que não desistisse que me conquistou, foi ela que com os mesmos olhos assustados mas desta vez mais doces conseguiu que o Bêh se derretesse... para mim não é 'um animal de estimação' é um ser que nos ensina todos os dias o que é o amor sem medida, a entrega sem limites... a adoração que nos tem enche-nos o coração.
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Tudo o resto valeu a pena, esperar sentada na casa de banho durante 10 ou 15 minutos todas as manhãs antes de ir para o trabalho para que saísse do seu 'refugio' e vencesse o medo, levantar 1 hora mais cedo para esperar que se sentisse confiante, para lhe dar o antibiótico, lhe limpar os olhos e lhe colocar as gotas... tudo vale a pena quando vemos que estes seres supostamente 'irracionais' conseguem ser mais puros, amar mais profundamente, entregar-se muito mais por inteiro que a maioria dos seres chamados 'racionais'.
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É a nossa Zuppa!*