quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Sentimento de Solidão ou Exigência Descabida?



Hoje estou nostálgica... talvez seja consequência directa de ter passado o dia todo sozinha em casa... e agora que a noite caiu continuo na minha solidão... os últimos dias têm sido 'dolorosos'... tenho sentido saudades tuas avó... tenho tido vontade de te escrever, sem ser capaz de o concretizar... tenho andado carente, a precisar de abraçar e ser abraçada... tenho chorado com facilidade, tenho precisado ouvir ao ouvido 'gosto de ti', dançar uma música qualquer bem agarrada, dar beijinhos e ser beijada... tenho precisado tanto de tanta atenção... talvez o exija demais... sei o quanto sou amada, mas sabes avó... às vezes parece que tenho um nó na garganta, que alguém me aperta o coração, que me atiram 'solidão' para dentro da alma, que me isolo do mundo e me perco por ruas desertas e desconhecidas sem conseguir encontrar o caminho de volta... às vezes, talvez muitas vezes, parece que PRECISO dar a mão para voltar a aprender a caminhar como se fosse um bebé... porque sinto eu isto?! Hoje enquanto tentava encher a cabeça para não pensar... só me lembrava do mar... o som das ondas a bater, o cheiro salgado da água cristalina, o azul infinito, o toque gelado da libertação, a grandeza... o infinito... será que tenho tendência para a nostalgia? para a insatisfação? para as lágrimas...
Não gosto da solidão... quando estou só e quando estou acompanhada... Sinto falta dos meus meninos, sinto falta dos sorrisos a toda a hora... perdi-os avó :'( consegues sequer imaginar a tua Marta sem aquele sorriso fácil estampado no rosto? Sinto falta de ti, dos olhos claros, das mãos enrugadas, das palavras doces, da voz meiga... da facilidade com que nos resolvias as dúvidas, os medos, os problemas... sinto falta do teu cheiro, da tua voz que quase não consigo lembrar, sinto falta das batas com um fecho que a Andreia abria para colocar a mão e se deixar dormir no teu colo, sinto falta do teu sorriso, de te ver falar com a televisão, de nos mandares calar, de nos separares à mesa, das sobras do frango assado e das batatas fritas do almoço no prato de inox, dos bombons escondidos no armário ao pé da porta da rua, da carteira preta que abria quando a apertavas ao mesmo tempo nos dois extremos, do teu cabelo branco, das roupas bonitas que só vestias para ir ao médico, da tua alegria... já não me lembro do teu abraço sabias? Nem consigo lembrar-me da ultima vez que te disse que gostava muito de ti... mas lembro-me do último dia que te vi... estavas triste, não queria deixar-te naquele hospital... queria trazer-te comigo... quem sabe dormir contigo na mesma cama, como nos velhos tempos... eu, tu a mana e o Sérgio... todos na tua cama... não gostávamos de sestas, detestávamos... mas tu levavas-nos para lá... odiava ser a última a acordar... sentia sempre que tinha perdido muito do tempo em que poderia estar a brincar ou a brigar com o Sérgio... e às vezes tinha pesadelos... qualquer coisa que enrolava sem parar... nunca consegui explicar... tenho saudade das tardes a ver a Rua Sésamo e a comer pão com marmelada, torradas ou apenas pão com flora, detestava planta... a mana e o primo enchiam o pão de planta e a mim agoniava-me... Sinto a tua falta, queria falar-te da minha vida, das minhas dúvidas... das minhas Vitórias, de mim... não chegaste a conhecer a pessoa que hoje sou... será que ias gostar? Serei uma pessoa triste? Serei uma pessoa insaciável? Serei uma pessoa má? Ás vezes, como tem acontecido ultimamente, sinto-me sozinha...